OFICINA – CORPO DA VOZ

Estudo voz e canto há praticamente 22 anos, desde quando decidi me dedicar à carreira artística. Inicialmente imaginava que a aula de canto tradicional, com a figura do professor de canto, o piano e uma sequência de exercícios vocais, pudesse dar conta de uma consciência dos elementos que envolvem a interpretação da canção. O diálogo cênico entre músicos e cantor, cantor e plateia, a relação do meu próprio corpo com o ato musical, o cantar com verdade e ‘alma’ (Andrada e Silva, 2005), a construção do som, as imagens que este sugere brotariam dessa relação trabalhada a dois. O passar dos anos e a falta de respostas, somados à minha curiosidade e necessidade de aprendizado, me levaram a conhecer outras linguagens, para além da musical, buscando espaços e troca de conhecimentos que permitissem refletir sobre o significado de ser um intérprete, o que dá este contorno, do que depende essa construção. Prática esta que tenho até hoje: atualizar-me e descobrir novas propostas para o aprimoramento artístico.
Compreendi que responder a esta inquietação não era sinônimo de um timbre bonito, de notas afinadas, da boa execução de vocalizes e/ou da precisão com que reproduzia determinado som. A partir desse momento passei a procurar especialmente profissionais da dança e do teatro, terapias corporais, cursos e oficinas de consciência do movimento e o fonoaudiólogo. Repensei padrões pré-fixados. A voz, ou a construção de uma voz, ocupava um lugar infinitamente maior do que o aparelho fonador e, desta forma, o trabalho do intérprete não poderia estar justificado apenas a conhecimentos da anatomia e fisiologia das estruturas das pregas vocais e trato vocal e/ou a trabalhos restritos à fisicalidade. Comecei a perseguir o desejo por um canto expressivo e pessoal e uma ideia que rompesse com a lógica voz x corpo x psiquismo.
O médico foniatra e teatrólogo Pedro Bloch afirmava que “a voz drena as tensões e os problemas emocionais têm na voz seu reflexo (...). A voz espreme, exprime e expressa o indivíduo" (Bloch, 1998, p.2). A voz de uma intérprete na perspectiva da corporeidade começou a surgir: a descoberta do corpo-voz como um tecido, uma casa, não compartimentalizada onde tudo é registrado no plano físico, psíquico, sonoro, num movimento de ação e reação, dialogando com os estímulos internos e externos, sociais, culturais.
A partir destes questionamentos nasce a oficina "Corpo da Voz" e minha abordagem no trabalho com pessoas interessadas em investigar e revelar sua expressão pela voz.
A canção brasileira é meu celeiro e cenário durante os encontros com forte acento nos ritmos brasileiros e minha experiência e herança no samba. Cantamos juntos, ouvimos juntos, trocamos nossas percepções na roda. O trabalho com a canção escolhida por cada participante da oficina é também um espaço de criação e imaginação a partir de propostas de improvisação em grupo, leitura do poema da canção, entendimento dos meandros musicais da obra.
Corpo da Voz é uma experiência de propriocepção a partir de jogos e exercícios que exploram aquecimento corporal/vocal; respiração; a consonância música e movimento corporal/vocal; articulação; ressonância; repertório, imaginação e criação; interpretação.